Seguidores

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PÁ PÁ PÁ PÁ PÁ


Filhotinhos e filhotinhas desta semi-travesti carioca de baixa renda, mas com vocabulário lapidado nas fornalhas de Coquetel Bronze, Prata, Ouro e Marfim da Ediouro.
Hoje venho aqui pra lhes desfiar um rosário de penas e lamúrias, tão pretérita, lacustre e parva que fico com a violência desta cidade.
E ainda querem fazer Olimpíada por aqui, gente...
Se bem que estamos treinados em corrida de obstáculos, salto sobre mendigos-dormindo-na-calçada e fuga de bala perdida.
Enfim... Vamos ao assunto, pra vocês entenderem o porquê desta minha cara toda amassada dos solavancos que levei na casa de Brígida Fofolette e Debby Rolicinha, gêmeas-travas-gordas e coordenadoras da ala das baianas da escola de samba "ALEGRETES DO JABÚ".
Sábado passado, elas fizeram um mocotó amigo pra apresentar as fantasias pra 2010. Me ligaram na sexta avisando.
E eu, que não perco uma oportunidade de vender meu JEQUETI,minha HERMES e minha NATURA, me preparei folgazã pra empreitada antropológica de visitar minhas amigas travasfantes e seus discípulos.
No dia do babado, cedinho, comecei a produção fofa que incluía calça de elástico, pra poder comer sem ter que ficar toda desbucetada, de fecho-ecláir aberto, reclamando que precisa de um Eno guaraná, pra se sentir digna.
Cheguei na festa, e a JOVELINA PÉROLA NEGRA gritava as adversidades entre legumes, numa certa feira sem-luz no meio da Pavuna.
Era tanta gente feia, que se alguém tirasse uma foto do elenco e pintasse de azul, todos achariam que se tratava de uma pintura de PICASSO feita sob efeito de uma forte crise de labirintite, daquelas bem risonhas e límpidas, como caminhar sobre paralelas numa linda manhã de setembro.
Um cachorro fedendo a chulé e duas galinhas magras completavam a fauna.
A uma certa hora, soube que o cachorro se chamava ARALHO. Brígida inflava os pulmões pra gritar, a cada vez que encontrava algum ossinho que pudesse alegrar seu bicho:
VEM CÁ ARALHO!!! DEIXA DE SER SAPECA, ARALHO! É PRA COMER! NÃO BRINCA, ARALHO!!!!
E lá vinha ele abanando seu rabinho rescendente a calcinha de mulata, depois de samba em inauguração de loja de colchão em dia de calor em Bangú.
Fiquei putrefata, totêmica e aristotélica.
As irmãs trava-rinocerontes estavam num modelito Du Loren, com penachos na cabeça e um pegnoir com a cara do Zico.
Não me perguntem por que. Deve ser quisila de Oxossi.
Brigida Fofolette era a mais bonitinha de todas e ostentava uma virilha tão depilada quanto uma casca de coco seco.
A barriga tinha tanta estria, que parecia aquelas forminhas de brigadeiro em festa de gente humilde, que vontade de chorar.
A perna com tanta micro-pereba de ácido úrico, que se ela pintasse cada uma de prateado, poderia usar como mapa de galáxias pelo Planetário nacional.
Não descreverei o resto do lay-out de Brígida, nem a singeleza de Debbynha porque... "we are the world, we are the children" e ADALAT tá difícil de achar na farmácia popular.
Uma das convidadas, uma veterana da escola de samba, cismou comigo e disse em bom vernáculo que não tinha ido com a minha cara.
Me chamou de "bicha-nega-preta do peito caolho" e ainda disse que só não me expulsava da festa de baixo de porrada, porque tinha feito cateterismo na quinta-feira e tava de preceito da Nanã Buruquê.
Tremi.
Desgraça nunca vem desgarrada e praquele encosto estar tão corajoso, é porque não devia estar sozinho.
Nunca vi pipa de papel ruim voar sem rabiola.
Almoço passou. O mocotó era uma água de chuca batizada...
Minha giárdia está de recesso até hoje.
Consegui vender dois rímel,um hidratante e um jogo de panelas Tefal com anti-aderente. Tava no saldo positivo.
Tudo corria às mil maravilhas: muito pobre engasgado, muita dentadura com moldura de farofa nos incisivos, muita alça de soutien saindo pelas laterais das camisetas baby-look com estampa de smilinguido e etiqueta da citycol... quando de repente...PÁ PÁ PÁ PÁ.
Escuta-se ao longe: FECHA TUDO E SE ESCONDE GENTE!!! US ÔMI TAUM INVADINU O MORRU!!!!!
Fiquei violácea, flatulente e mórbida.
A velha do cateterismo deu um duplo carpado e foi parar no banheiro que, a essa altura, já estava mais cheio que festa de macumba em dia de Cosme e Damião.
As irmãs hipopótamas fizeram "super gêmeas-ativar", tomaram forma de estalactites invisíveis de Júpiter e sumiram do mapa. Os meninos que serviam a cerveja mimetizaram-se com o muro de chapisco e nem rastro deixaram no recinto.
Permaneci cardinal, estóica e perene. Eu, no centro daquele lugar fétido, segurando minha bolsa de couro de preá da Venezuela, minhas revistinhas de encomendas e um copo gorduroso de Cintra quente.
O pá pá pá continuou percussivo e inquisidor pela comunidade.
Quando eu já aceitava minha morte como certa, o portãozinho com adesivo de SÓ JESUS TIRA EXU CAVEIRA DAS PESSOAS se abriu e dois policiais de roupa camuflada em azul escuro cheirando a Rexona Male me tomaram nos braços e me perguntaram o que eu tava fazendo na casa das gordas do haxixe.
Gente... Eu mijei seven up. Fiquei oxiúrica e reverberante. Sargento Lúcio e Cabo Ximenes me olhavam com cara de lobos vorazes, viris e varonis.
Entumecida, fluidificada, com meus olhinhos de dríade chupadeira, os convenci de que só estava ali pra conseguir uma saia rodada e pra vender uns produtinhos inocentes.
Certa de que sairia na capa do Meia-hora no dia seguinte ,consegui deles uma carona até a Central. Cabo Ximenes ainda me pagou um joelho e um suco de cajú.
Sou feliz assim.
Suja e bela.
Bjus onde o feijãozinho cresce.