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domingo, 14 de março de 2010

40 ANOS DE SHARLÚCIA CREME CRÁQUER - PARTE 2


ÓDIO PRIMITIVO.
(continuãção)
Eu, Maurinho e Sheila irmã de Selma nos arrumamos com roupas sóbrias e evitamos acessórios chamativos. Maurinho tava até parecendo um bofinho daqueles que trabalham como empacotadores do REDE ECONOMIA. Mas sua bicha interiorizada era tão discreta quanto orgasmo de sapatão fã de axé-music - pesquisem e entenderão.ahahah)

Selma colocou um conjuntinho de viscose, prendeu o cabelo acajú-purpura num coque que amarrou com uma xuxa esgarçada cor de rabo de poodle bege e eu, que não conseguia parecer homem nem se me disfarçasse de negrinho-do-pastoreio-em-dia-de-recenseamento-na-senzala, optei por um terninho DEMOSELLE MODAS, presente de minha ex-patroa Jussara do 903.

Assim que nos aprontamos chamamos a van e nos dirigimos a festa-culto de Shashá...

Antes, nós tres passamos na lanchonete X-TUDO DE PAQUETÁ,na casa de macumba EBÓ SALIENTE, na birosca do TIÃO MELECA e antes de embarcarmos demos alguns telefonemas decisivos a nossa perfomance.

De Paquetá até a PRIMEIRA IGREJA DEUTERONOMICA JESSÉLICA DE ANCHIETA demoramos quatro horas e vinte e seis minutos. Meus dan-regularys estavam provocando uma verdadeira festa-rave dentro de mim e se me arrolhassem por 40 minutos eu voltava pra casa voando de tantos gases acumulados. E ainda sobraria CO2 suficiente pra fazer uma varredura à ar na Praia da Moreninha.

Chegamos intestínicos, clamídicos e giárdicos e colocamos bíblias debaixo do braço pra podermos entrar na festa-culto sem sermos barrados. Afinal todos os irmãos em CRISTO eram bem-vindos. Ja eram onze e quinze da manhã. O horário previsto pro início era as nove. Estavamos atrasados mas nossa entrada não foi muito notada graças a pregação intensa do pastor vigente que a cada ALELUIA mostrava um dentadura frouxa que soltava no A, quicava no LE e tremia loucamente até voltar no fim do LUIA. Dei uma olhada no elenco e além da enorme quantidade de desconhecidos famélicos - (festa de crente não tem comida,só guaraná e um bolo do Guanabara no final, quando tem - quem discordar que me convide pra um rega-bofe-aleluia daqueles com direito a levar farnel pra casa.) - percebi os nossos amigos que foram convidados num figurino feito com sobra de tafetá de forro de saia de porta bandeira do bloco " DOU MEU RETO NA CURVA". Os homens estavam com ternos que usaram em suas primeiras comunhões - o do marido de Selminha Bole-Bole tava tão apertado que de longe ele pareceia um olho de sogra ladeado por abas de ameixa representados por um brin "azul ematoma" do paletó com um recheio de banha transbordando por baixo da camisa de tergal da IMPECÁVEL MARÉ MANSA. Fiquei alfaiática, hipoglicêmica e passa-mariânica.

O lugar era um imenso salão (mentira - um furico de preá. Mínimo.) com 60 cadeiras. Todas ocupadas e com mais umas 20 pessoas em pé e alguns obreiros ao redor pra assegurar o "DAS CRIANÇAS" na hora do ofertório. Na frente um palquinho com um tecladista deficiente visual, um pulpito improvisado pro pastor falar num microfone de videoke e algumas cadeiras onde estavam sentados a aniversariante e seu marido e mais um casal que intuí serem os pais do namorado de Shashá. Uma cadeira estava vazia mas tinha um papel com um nome: PASTOR HERMINIO FILHO.

SHASHÁ tava com os olhinhos indóceis e quando nos viu balbuciou um TÁ AMARRADO que de tão forte suspendeu minha eminente caganeira. Fiquei grata e sequinha. O tal namorado/marido nos olhava com uma cara reprovadora mas só nos davamos o trabalho de retocar o gloss e esperavamos nervosas que nossos telefones vibrassem nas bolsas.

Enfim isso aconteceu: Depois de mais duas horas de muito salmo e nenhum copo d´água pra enganar a fome, nossos telefones tocaram . Era o resto dos renegados da festa que chegavam pra formar o bonde ... Atendi, e bem baixinho mandei eles entrarem e a ultima fila parecia dia de vacinação de penitenciária. Selminha de Omolu chegou com quatro equédis e dois ogãs (ou é OGAN ???Tinham que fazer reforma ortográfica na minha cabeça moldada pela cartilha da Talita) Ao lado deles TREMOÇO ,que havia conseguido o salão pra festa que faríamos originalmente, estava com uma camisa escrito ONDE ANDARÁ LÍDIA BRONDI e uma calça de micro-fibra que lhe marcava a masculinidade de tal forma que parecia que guardava 3 ovos de páscoa da DIZZIOLLI em seu bolso (fiquei tão feminilizada ante a visão que se minha mono-teta fosse um animal seria uma foca circense equilibrando um globo terrestre pegando fogo). MC BRONHA NERVOSA também estava com o grupo e afora o ZÉ PLINTRA tatuado no braço esquerdo ,estaria até discreto.


Todos haviam chegado. Seguindo nosso plano era hora de iniciarmos nossas atividades. Mas nos faltava uma deixa. E eis que por obra do destino o pastor quis falar sobre as maravilhas de se ter uma família digna e unida no amor em Cristo e pra isso chamou ao pulpito seu filho, aquele cujo nome enfeitava a cadeira de plástico vazia. De uma porta lateral ao palco surgiu um moreno espadaúdo, ombros largos, sorriso generoso, mala bem nutrida, pé grande mão boa de dar chapuletada em quengo de bicha pedinte, bem vestido com um terno feito de tecido bom, provavelmente compado na RIACHULELO. Olhei praquele espécime no auge de sua capacidade reprodutiva e fiquei tão úmida que se naquele momento minha calcinha reproduzisse uma paisagem eu estaria estampada de FOZ DO IGUAÇU. Me batia tanto nas partes onde só o dermacyd chega que parecia que subiria o Curuzú de joelhos. Fiquei olodúnica,afrorréguica e percussiva.
Mas quando ele pegou o microfone e falou BOA TARDE IRMÃOS EM CRISTO meu duodeno e meu unico seio feminino entraram em alerta. Algo em mim reconhecia aquele homem. E esse algo era escuro,quentinho e mais rodado que Chevete 76. Fiquei maquinando, remoendo meus pensamentos até que ele bateu com as mãos num clamor santo e todo um download se fez. Peidei morninho de alegria ao concluir meu raciocínio. PASTOR HERMINIO FILHO era o recém convertido MINICO DE OGUM, ex-ogã de Selminha que costumava nos alegrar com brincadeirinhas lúdicas de "seu pipi-no-nosso-popo-e-adjacencia" em troca de um marlboro light, um sanduíche de queijo prato, uma trouxa de roupa lavada... Mas lembro de sua generosidade nos preenchendo as sem-vergonhices só pra esperar a hora do jogo. Fofíssimo.

Eu e Selminha e todos os outros macumbeiros nos arrepiamos. Um sinal divino nos foi dado. Era hora de começar a agir. Sheila, Maurinho e eu nos olhamos cumplices, tácitos e malévolos e numa coreografia que deixaria DEBORA COLKER parecendo um semi-círculo recheado de angu, abrimos nossas bolsas e puxamos ,cada um, um EGG-X-BACON da X-tudo de Paquetá. Assim que abrimos o pacotinho do sanduíche o cheiro se espalhou pelo salão e um rumor angustiante tomou conta do lugar. Sharlucia olhou pra nós e falou TA AMARRADO 10 vezes. Dessa vez nem difarçou e falou alto. Seu marido tomou-se de uma raiva louca e desceu até nós e nos ameaçou de expulsão. mas as equédis cínicas simularam um choro e disseram que queriam ouvir as palavras do senhor. A platéia faminta se solidarizou e KLEBER SERENO ficou com a cara no chão, humilhado, febril e vingativo.


Sharlucia também desceu pra falar com a gente. No começo estava agressiva e autoritária. Aí foi a vez da segunda parte do plano. Abri minha bolsa e bem pertinho de SHASHÁ puxei uma latinha de skol quente e abri. O barulhinho da lata se abrindo e o cheiro da cerveja, que quente se espalha mais rápido que murrinha de mortadela pegou SHARLÚCIA em cheio. Seus olhos currupiaram pelas órbitas. Sua aura se turvou a um ponto que ela parecia cercada por um halo de toddynho. Sentiu uma imensa crise de abstinecia do cheiro de esmalte vermelho-endometriose que usava nas suas tardes de caridade no canjerê de Selma.


La no pulpito , MINITO começou a pregar sobre os males da sociedade corrompida pelos vícios e pelo homossexulismo até que a nuvem de odor de skol passou por seu nariz abstemio e ele deu um rodopio daqueles dignos de labirintite de ex-chacrete. Seus olhos semi-cerraram e ele fez um bico do tamanho da proa de uma escuna de festa de são josé dos navegantes.


Sharlucia não conseguia mais subir de volta. Ficava num misto de transe medúnico com hipoglicemia. Kleber (aquele que a comia) pediu guaraná pra ela não desmaiar. A palavra guaraná provocou um pandemonio sem precedentes. As pessoas se tremiam e se esbugalhavam como peixinhos de vala sentindo a presença de um pedaço de miolo de pão. Puxamos duas coxinhas de galinha da bolsa e jogamos no meio do salão. Não vou falar que a Igreja virou PORTO PRÍNCIPE porque com certas coisas não se brinca. Seria muita grosseria e falta de amor ao próximo dizer que aquelas pessoas famintas se aglomerando e se estapeando por uma coxinha de galinha parecia com PORTO PRICIPE PÓS TERREMOTO. Só muita falta de noção humanitária faria alguém comparar aquela situação com o fragelo de PORTO PRÍNCIPE. Por isso não farei isso. Usem a imaginação.


Nossos amigos que tinham sido convidados ja estavam nos oferecendo oito reais pela latinha quente. Tião Meleca nos vendeu catorze, e como bebemos oito no caminho ainda sobravam seis pra vendermos. O efeito da cerveja quente no sangue de pessoas de estomago vazio que tinham passado horas repetindo ALELUIAS e GLÓRIA A DEUS foi devastador... KATIA DO 51 e seu marido ja estavam sem sapato e diziam bem alto que iam sair dali e iam curtir uma night num clube de swing. Sharlucia tentava se manter fiel aos principios novos mas ja estava querendo tirar o sutiã e não tirava os olhos da calça de TREMOÇO. Os irmãos dela ja estavam misturando perfume com guaraná e vendiam o que chamava de arrebite perfumado por dois aqués. Seus pais ligavam pro disk-carne-de-sol Anchieta express e Minico ja estava com seu medalhão de SÃO JORGE pra fora.


Quando olhei praquela medalha fui tomada por uma força sobrenatural e fixei meus olhos em Sharlucia e, vingativa,cruel e setentrional disse: AMIGA PIRANHA MORRE JUNTO NA BOCA DO JACARÉ. Sharlucia que ja estava com a calcinha na cabeça bebendo um desodorante roll-on ainda pediu perdão mas eu estava maquiavélica. Puxei da minha bolsa o CD PADILHA E TRANCA-RUA LOVE DUETS (que compramos na EBÓ SALIENTE) e joguei pro BRONHA NERVOSA que colocou pra tocar em alto som no seu fiat uno envenenado. Foi meu golpe de misericórdia.


Aos primeiros acordes de VINHA CAMINHANDO A PÉ PARA VER SE ENCONTRAVA A MINHA CIGANA DE FÉ... Selminha e sua trupe começaram a cantar aos berros e Sharlucia ali mesmo incorporou e gritou: QUERO UM PERNA DE CALÇAAAAAAAAAAAA. BÁ NOITCHY MOÇOOOOOOOO.ME CHUPAAAAAAAAAA. O pastor e seus discipulos correram mais que operário de metalúrgica com medo de perder o ultimo ônibus. Kleber ainda tentava agarrar sua amada mas ela tava mais forte que a She-ha e só pensava em pito e marafo. Desistiu e foi embora jurando vingança, abandonando Sharlúcia dançando e rodando em ritmo de festa.


Minico ja tava sem terno e batucando com duas garrafas pet vazias de guaraná convenção numa cadeira de cabeça pra baixo.


Os parentes de Sharlucia ,nós e os amigos convidados fizemos uma vaquinha e contratamos um micro-onibus pra nos levar a Paquetá;


A amizade não é mais a mesma mas a gente se entende....


Fica a lição BIXA VINGATIVA É QUE NEM CU DE TOP MODEL: PODE DEMORAR E NÃO SER NOTADO, MAS SEMPRE FAZ MERDA.





Termino aqui. Poética, apolínea e metaforizada.





beijinhos aonde sobram gotinhas

4 comentários:

  1. Meus dans-naturalis só não me fizeram passar vergonha porque eu já os tinha usado hoje. Valeu a pena esperar!

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  2. Passei mal de tanto rir e adorei a vingança! Loosho AND Splendoor!

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  3. ri muito...Vc é único!
    Já me loguei. Isso vai virar cachaça...rsrsrs

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  4. Caraca, que comédia... Bicha vingativa igual a cu de top model foi ótimo! hahahahaha

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